Leonardo Da Vinci, um dos maiores gênios da história, deixou para a posteridade mais de 7.000 páginas de cadernos. Neles, documentou não apenas suas invenções, mas também suas paixões, experimentos e observações que abrangeram uma impressionante diversidade de áreas: pintura, escultura, arquitetura, ciência, matemática, engenharia, música, literatura, anatomia, geologia, astronomia e mais. No entanto, um dos aspectos mais intrigantes de sua vida, e que pode nos ensinar muito, é a forma como ele estruturava suas listas de tarefas.
Essas listas de tarefas, longe de serem simples ou triviais, eram, para Da Vinci, um mapa do desconhecido. Em vez de apenas listar obrigações diárias ou tarefas rotineiras, Leonardo usava suas listas para alimentar uma curiosidade sem limites. Ele não se restringia a uma área do conhecimento ou a uma função específica. Em uma única página, Leonardo desenhava plantas fascinantes, escrevia rascunhos de cartas e, ao lado dessas anotações, registrava cálculos complexos ou perguntas aparentemente simples, como “O que é o espirro?” ou “O que faz o olho se mover?”
Em uma de suas listas, por exemplo, ele anota tarefas tão variadas quanto “inflar os pulmões de um porco e observar se eles aumentam em largura e comprimento” e “obter um livro sobre as igrejas de Milão”. Ao contrário das nossas listas modernas, repletas de obrigações domésticas ou metas de produtividade, as listas de Da Vinci eram verdadeiros manifestos de um espírito explorador, impulsionado pelo desejo de aprender. Em suas notas, a tarefa de "desenhar Milão" aparece lado a lado com a investigação sobre o movimento dos tendões dos olhos, ou com a curiosidade sobre como os pássaros são nutridos dentro dos ovos.
Essa abordagem revela algo fundamental sobre a mentalidade de Leonardo: ele não via as tarefas como meros afazeres. Cada item em sua lista era uma porta de entrada para um novo campo do conhecimento. Ele não estava apenas cumprindo uma obrigação; estava constantemente explorando o mundo ao seu redor, questionando como ele funcionava. Sua famosa curiosidade era o motor de sua genialidade.
Mas o que isso pode nos ensinar nos dias de hoje? Se pararmos para pensar, a era digital nos dá acesso a uma quantidade infinita de conhecimento. No entanto, como sugerido na biografia de Da Vinci escrita por Walter Isaacson, muitos de nós raramente paramos para observar o mundo ao nosso redor. Em vez de explorar questões que nos intrigam, estamos mais preocupados com a eficiência e produtividade. Nossas listas de tarefas são frequentemente restritas às obrigações do cotidiano – pagar contas, responder e-mails, concluir tarefas profissionais. E a curiosidade, que deveria nos impulsionar a aprender e expandir nosso horizonte, fica muitas vezes relegada a segundo plano.
O legado de Da Vinci nos desafia a mudar essa mentalidade. Suas listas mostram que, além das obrigações, devemos reservar um espaço para o desconhecido. Devemos, como ele, formular perguntas que nos intrigam e buscar respostas, não apenas para cumprir metas imediatas, mas pelo simples prazer de aprender e explorar. Imagine como nossas listas de tarefas poderiam ser transformadas se incluíssemos perguntas como:
Qual é a física por trás de um arco-íris?
Por que as árvores crescem de maneira tão diversa ao redor do mundo?
Outro ensinamento fundamental de Da Vinci é o hábito de registrar tudo. Leonardo sempre carregava consigo folhas de papel para anotar suas observações. Pode parecer algo simples, mas muitos dos maiores pensadores da história faziam o mesmo. Isaac Newton, Beethoven, Benjamin Franklin, e até empresários modernos como Richard Branson, são conhecidos por sempre terem à mão um caderno. Como disse Aristóteles Onassis, “Anote tudo. Se você não escrever, vai esquecer.”
Anotar nossas observações, dúvidas e pensamentos ao longo do dia não só nos ajuda a lembrar, mas também nos incentiva a agir. Ao escrever, tornamos nossas ideias mais concretas e aumentamos a chance de explorá-las. Talvez seja hora de reconsiderarmos nossas ferramentas digitais de produtividade e voltarmos ao básico: um caderno e uma caneta podem ser suficientes para abrir as portas da criatividade e da descoberta.
Leonardo também nos ensina a sonhar grande. Quando ele anotava “Desenhar Milão”, estava estabelecendo uma meta grandiosa, que poderia facilmente ser descartada por outros como inatingível. Mas Da Vinci não se limitava por dúvidas ou crenças limitantes. Se ele se permitisse ser reduzido a um só campo, como a pintura, o mundo teria perdido o cientista, o engenheiro, o anatomista e o inventor que ele também foi. Ao estabelecer metas ambiciosas, ele nos lembra que somos capazes de muito mais do que imaginamos.
O segredo, portanto, está em não nos limitarmos. Não precisamos escolher entre ciência e arte, negócios e criatividade. Podemos explorar todos os campos que nos intrigam, desde que mantenhamos nossa curiosidade viva. Em vez de nos restringirmos a listas de tarefas cheias de compromissos repetitivos, devemos preencher nosso dia com perguntas, com observações sobre o mundo, com o desejo constante de aprender algo novo.
Em um mundo tão cheio de distrações, redes sociais e listas intermináveis de afazeres, Leonardo Da Vinci nos dá uma lição atemporal: nunca pare de ser curioso e sempre mantenha um caderno por perto.